As tradições locais se fazem presente mais uma vez na programação do XXV Festival Internacional de Música Erudita e Popular de Domingos Martins. Dentre as 21 oficinas musicais oferecidas este ano, a de concertina volta a reunir os apreciadores do instrumento típico da cultura germânica. O mestre Angelino Zaager compartilha seus conhecimentos no distrito de Melgaço
Numa sala do Centro Comunitário da Associação de Moradores, 12 alunos de origem pomerana com idades entre nove e 62 anos aprendem os primeiros acordes da concertina. A maioria vê na oficina do Festival a oportunidade de perpetuar a cultura familiar, uma vez que saber tocar o instrumento significa manter costumes como danças e casamentos pomeranos.
A estudante Glenda Schroeder (15) já toca concertina há quatro anos e considera que a oficina do Festival de Inverno deve ser definitiva na programação anual. “Com essa valorização do evento, a tradição fica mais valorizada. A oficina é a garantia da cultura não terminar. Todos aqui estamos bem interessados em aprender”, diz.
![]() |
Outro estudante, Gustavo Ponath (15) conta ter feito seis aulas particulares do instrumento e se inscreveu para se aprimorar. O último familiar que sabia tocar, o avô, morreu há três anos. “Nas minhas duas famílias, materna e paterna, tocar concertina é tradição. Quero aprender para dar continuidade. Vai depender de mim passar o costume para as gerações seguintes”.
![]() |
E na família Goerl a manutenção da cultura está reforçada. O agricultor Erwin Goerl (62) e o filho, Edigar (28) participam juntos da oficina com Angelino Zaager. “Está muito bom poder aprender mais um pouco”, diz Erwin.
![]() |
O caçula do grupo, Thiago Kempin, de nove anos, começou a tocar concertina no ano passado por incentivo do avô, Alfredo (70). “Minha avó tocava, daí aprendi um pouco em casa. Gosto muito do som do instrumento, traz muita alegria”.
![]() |
Para o professor, a abertura do Festival de Inverno para o ensinamento da concertina é de extrema importância para a comunidade. “Isso é maravilhoso. A cultura estava praticamente caída. É preciso ter mais pessoas tocando o instrumento para fortalecer as tradições”, avalia.
Segundo Zaager, as técnicas da concertina independem da idade do aprendiz. “Só depende de querer, ter esperança de que vai aprender e amor e carinho pelo instrumento. Recentemente, um pastor luterano de 72 anos me procurou para começar a tocar”.
![]() |
A secretária Municipal de Cultura e Turismo de Domingos Martins, Rejane Entringer, afirma que o Festival de Inverno sempre prezou pela pluralidade musical. “A cada edição do Festival temos uma variação de oficinas musicais, contemplando os mais diversos estilos e instrumentos. Priorizamos este ano alguns instrumentos que não estiveram presentes em 2017. O acordeon deu lugar à concertina, atendendo a uma demanda da comunidade local, haja vista o grande número de tocadores no nosso município”.
Mais sobre o mestre
Angelino Zaager é o único profissional que se tem notícia no Estado dedicado também à tarefa de restaurar e afinar as concertinas. O serviço é de extrema importância para manter a tradição, uma vez que os únicos exemplares são os mesmos trazidos pelos imigrantes pomeranos, há cerca de 150 anos.
O trabalho artesanal é apenas uma das ocupações do “Mestre das Concertinas”. O dia dele começa com a condução de estudantes do distrito de Melgaço até a Escola Estadual Teófilo Paulino, na sede do município, a 30 km.
Zaager conta que o primeiro contato com o instrumento foi aos oito anos, na localidade de Rio das Pedras, atualmente município de Santa Maria de Jetibá, onde nasceu e aprendeu as primeiras notas. “Meu avô tinha uma concertina e, de vez em quando me deixava colocá-la no colo. Porém, ele não sabia tocar, e acabei aprendendo com um vizinho”, lembra.
Apesar da vocação precoce, Angelino tocava concertina quase de forma “clandestina”. Isso porque o professor de catecismo da Igreja Luterana aconselhou Zaager e seu pai a aguardarem o menino esperar a confirmação do voto religioso, aos 13 anos, antes de iniciar as apresentações públicas. A idade é considerada ideal para os adolescentes luteranos fazerem suas escolhas, entre elas tocar o instrumento. Para os pastores da época, a prática de tocar concertina era abominável porque era muita ligada aos bailes onde havia bebida alcoólica.
Na vida adulta, a marcenaria virou profissão. Há 18 anos, os vizinhos passaram a procurar Angelino para reparar instrumentos danificados. As concertinas são consideradas verdadeiras relíquias de família por valerem o preço de um carro. Algumas chegam a custar R$ 25 mil, dependendo do acabamento, em geral com marchetaria. O conserto leva, em média, dois meses, e o preço do serviço pode chegar a R$ 1.500,00. Os clientes são moradores de norte a sul do Estado e até de Rondônia. Só este ano, a oficina recebeu 22 instrumentos.
Zaager ainda encontra tempo à noite para ensinar pessoas de todas as idades a tocarem o instrumento. Com exceção de quinta-feira e fins de semana, ele ministra aulas no salão comunitário de Melgaço, reunindo mais de 80 alunos que, assim como ele, são apaixonados pela valsa e outros ritmos extraídos da puxada do fole da concertina.
O Festival
O XXV Festival de Inverno segue até o próximo domingo (22). Este ano, são mais de 100 atrações musicais na programação. Reconhecido como o principal evento do gênero no Espírito Santo e um dos mais importantes no País, o festival vai reunir apresentações clássicas e populares, com destaque também para o cenário musical do Espírito Santo. São esperadas 70 mil pessoas em 14 dias de programação.
Programação
20/07 (Sexta-Feira)
18h à 00h: Audição dos alunos - Rua de Lazer
18h: Audição dos alunos - Oficina Prática de Orquestra - Palco Principal
19h: Audição dos alunos - Oficina Prática de Conjunto – Coreto
20h: Concerto de Cordas - Professores do Festival - Palco Principal
21h: Unnamed Band - Vencedora do Concurso Palco Livre – Coreto
22h: Zé Maholics - Praça de Alimentação
00h: Luau do Casanova - Palco Principal
21/07 (Sábado)
9h às 12h: Audição dos Alunos - Rua de Lazer
12h: Pop & Jazz Orquestra – IFES - Palco Principal
13h às 23h: Palco Livre - Rua de Lazer
14h: Tony Ribeiro - Praça de Alimentação
16h: Brasileiríssimo – FAMES - Palco Principal
18h: Hang Blues - Vencedora do Concurso Palco Livre - Praça de Alimentação
20h: Orquestra Sinfônica SUL Espírito Santo - Palco Principal
22h: Saulo Simonassi - Praça de Alimentação
00h: Projeto Feijoada com Ivo Meirelles - Palco Principal
22/07 (Domingo)
10h: Paulo Dantas Trio – Rua de Lazer
11h30: Grupo de Dança Alemã Rheinland – Coreto
12h às 18h: Palco livre - Rua de Lazer
12h: Orquestra Capixaba de Sopros – Cariacica - Palco Principal
14h: Marajás do Sudeste - Vencedora do Concurso Palco Livre - Praça de Alimentação
15h: Grupo de Dança Alemã Blumen der Erde Volkstanzgruppe – Coreto
16h: Eden Acordeon e Trio “Cantos Brasileiros” - Praça de Alimentação
18h: Zero28 Band – Coreto
20h: Banda da Polícia Militar do ES - Palco Principal
*Programação sujeita a alterações sem aviso prévio